Eu comentava em um post do Facebook sobre
a necessidade de pragmatismo por parte da direita. Acho que talvez meus
comentários estavam emburrados demais, pois alguém perguntou: “Luciano,
o que é ser pragmático? Parece que o pessoal não está compreendendo”.
Parece que eu estava exigindo algo que uma parte da plateia não
compreendia.
Para entender o que é pragmatismo, vamos visualizar exatamente o seu oposto.
Imagine que você é um líder de um
pelotão coordenando a fuga de seus soldados que estão em debandada após
uma tentativa desastrada de invadir um país vizinho. Sua missão é levar o
máximo possível de soldados salvos de volta. Você tem duas possíveis
rotas a serem escolhidas. Cada uma tem seus prós e contras. Não são
apostas iguais. É preciso tomar alguma decisão. E você tem pouquíssimo
tempo, pois seus oponentes estão quase te alcançando.
Eis que um tenente pergunta: “Por qual
dos dois caminhos vamos? Pelo caminho X ou Y?”. A resposta: “Nenhum dos
dois. X ou Y não são ideais”. O tenente retorna: “Mas por onde vamos
então?”. Nova resposta do líder: “Por um caminho que ainda precisa ser
descoberto”. É quando o pânico toma conta, pois obviamente não estamos
diante de um líder pragmático. Alias, que diabos está fazendo alguém não
pragmático na liderança?
É claro que ninguém é obrigado a escolher
X ou Y. O líder poderia dizer: “Não iremos nem pelo caminho X nem pelo
Y, pois ambos incorrem em riscos de vida. Eu descobri um túnel que nos
garantirá chegar ilesos”. Aqui, ao contrário do pensamento abstrato, ele
estaria sendo pragmático.
Pragmatismo, então, é definido pela
orientação a resultados. As ações são medidas em relação aos resultados
esperados, não à manias, hábitos e outras coisas que não tem nada a ver
com gerar ou não resultados de acordo com um objetivo específico.
Hoje em dia é fácil encontrar pessoas
dizendo “Nem o PSDB e nem o PT, pois ambos fizeram o Pacto de
Princeton”. Ok, mas isso ainda significa dizer que os dois caminhos são
exatamente iguais? É claro que o argumento em prol da absoluta
similaridade dos dois caminhos é dificílimo. Mais eis que a conclusão do
discurso geralmente vem em vários formatos:
- Precisamos de um novo partido (ou)
- Precisamos de uma intervenção militar (ou)
- Temos que nos revoltar contra tudo
Eu já vou dizendo que sou um entusiasta
do NOVO. Mas não acho que temos ali uma solução imediata, mas a
construção de algo para o futuro. Portanto, eu pensaria mais no NOVO
funcionando como um PSOL funcionaria para o PT, com a diferença de que
seria uma linha auxiliar (crítica) para um partido anti-PT.
Já a solução 2 é patética. Escrevi demais
sobre o motivo pelo qual ela é inaceitável. Em relação à solução 3,
novamente, sem comentários.
Sobre o PSDB, eu gostaria de dizer que
estou enojado com a moleza do partido (e a demora em pedir impeachment).
Também acho vergonhosa a viagem de alguns deles para os Estados Unidos,
ao que parece para fugir da sabatina contra Luiz Fachin. Ou seja, mais
um caso de omissão. E não posso deixar de mencionar a afronta das
afrontas no papel lastimável que Álvaro Dias tem tomado em defesa de
Fachin.
É claro que tudo isto é revoltante. Mas
ainda não justifica que tomemos PSDB e PT como caminhos similares, pois o
caminho do PT é o caminho que nos dá certeza de escravidão. A única
coisa que está na mente no PT é nos tornar escravos. Isto não está na
mente do PSDB e nem do PMDB. Então mesmo que seja revoltante ver os
tucanos fazendo um papelão atrás do outro, são eles, assim como alguns
pmdebistas, que estão entre nossas opções reais para conquista de
resultados. Neste momento.
Ou nós pressionarmos políticos do PSDB e
do PMDB ou não pressionamos. E a decisão que tomarmos irá influir
diretamente nos resultados que conquistaremos. O PT está salivando para
que larguemos todo tipo de pressão. É claro que eles não querem que
sejamos pragmáticos, pois eles próprios são pragmáticos.
Os petistas militantes não deglutiram a
ida de Joaquim Levy para a Fazenda. Nem a participação de Kátia Abreu na
Agricultura. E mesmo assim eles sabem a diferença entre ficar do lado
do PT (mesmo xingando-os sem parar por estas escolhas) e ficar do lado
do PSDB. Ou do PMDB. Se o projeto dos militantes petistas é nos
transformar em escravos, é evidente que PSDB e PT não são a mesma coisa
para eles. Então não faz nenhum sentido, por qualquer visão pragmática,
que eles não tomem escolha alguma. Por que deveria ser diferente para
nós?
Enfim, isto é pensar pragmaticamente.
Para ser pragmático, é preciso assumir a responsabilidade por nossas
escolhas. E até pela escolha de que não querer fazer escolha alguma e
defender-se com frases de efeito e slogans. Mas cada opção, no fundo,
gera resultados. Quais resultados você quer? Para semana que vem? Para o
mês que vem? Para o próximo trimestre?
Quando você começar a pensar
automaticamente desta forma, entenderá de forma subconsciente o que é o
pragmatismo, algo que Gramsci ensinou à esquerda em 1925. Estamos
“apenas” 90 anos atrasados na criação de um instinto pragmático na hora
de reagirmos aos eventos do mundo. Temos muito trabalho pela frente.
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