quinta-feira, 7 de maio de 2015

Por que o socialismo é definitivamente um engodo e jamais um engano


socialismoNão é novidade para leitores deste blog que sempre que eu vejo alguém dizendo que “o socialismo fracassou” ou “não deu certo em lugar algum do mundo” é como se eu ouvisse o barulho de giz riscando a lousa.
Auditores de segurança da informação ficam particularmente incomodados com este comportamento pois sabem que a mente de alguém que acha estar diante de um engano e a mente de alguém que percebe uma fraude agem de forma completamente diferente diante do perigo. No primeiro caso, um cérebro colapsado tende a misturar sentimentos de compaixão e afeto com alguma indignação. No segundo caso, a mente se treina para a precaução.
Por esta perspectiva, quando alguém acha que o “socialismo fracassou” tende a achar que esta doutrina é obra de pessoas bem intencionadas que “erraram”. Os líderes que adotaram o socialismo passam a ser pessoas “tolas”, que então devem ser lembradas de seu engano. A argumentação, mesmo que seja crítica diante do socialismo, tende a assumir tons de compaixão. Isto funciona no nível subconsciente, pois nosso cérebro tende a produzir sentimentos de compaixão diante de “enganados”.
Em visão estritamente oposta, eu defendo que o socialismo tem obtido sucesso em suas implementações, pois foi criado para a obtenção de poder totalitário a partir de frames utilizados para enganar incautos. Os líderes que o adotaram são pessoas perversas que, de acordo com seu sistema moral, fizeram o que tinham que fazer e escolheram a melhor tecnologia para obter o que queriam: o socialismo. Repito: eles fizeram sua opção corretamente, de acordo com seus sistemas morais, que são bem diferentes dos nossos. Eles sabem do que fazem, e não merecem compaixão, mas uma desconstrução contínua, implacável e impiedosa.
Pode surgir daí a pergunta que “travaria” este empreendimento de passar a compreender o socialismo como uma tecnologia de sucesso (ao invés de um “engano de coitadinhos”): “Quais seus argumentos em favor desta hipótese?”. Apresento três.

(1) Algo que gera tanto benefícios para seus principais proponentes não pode ser um engano
Um engano, ou erro, resulta de uma ação inesperada, as vezes por falha de planejamento ou de conhecimento. Os resultados de enganos são normalmente malefícios de acordo com sua intenção. Por exemplo, se é sua intenção escolher um bairro seguro para morar, um engano pode levá-lo a cair em um bairro perigoso. Pelo engano, você tende a perder. Se você se engana no momento de identificar o sinal de trânsito, sua chance de bater o carro (ou ao menos de tomar uma multa) aumenta radicalmente.
Pode até ser que em experimentos científicos enganos tenham gerado descobertas. Mas a verdade é que o próprio experimento científico entende que o seu objetivo é gerar a resposta mais correta, mesmo que ela desvele alguns de nossos erros de julgamento. Da mesma forma, é possível descobrir algo além do esperado com um experimento. Isto não significa então uma refutação ao argumento de que enganos tendem a gerar malefícios, muito mais do que benefícios.
Porém, os líderes e muitos intelectuais orgânicos só obtém benefícios com o socialismo, mesmo que sua população seja lançada à míngua. Os irmãos Castro, Nicolas Maduro e Kim Jong-ul vivem vidas invejáveis, embora pareçam repelentes a nós que possuímos o menor senso de moralidade. Mas quem disse que todos os seres humanos possuem o mesmo senso de moralidade? Assim, de acordo com o senso moral perverso deles, só existiram benefícios resultantes do socialismo. Mas e quanto ao povo que sofre? Infelizmente, o mundo é dos espertos. Socialismo jamais foi feito para o povo, que sempre sofre feito cachorro nestes países. Sempre foi assim e sempre será. O socialismo não foi feito para eles, mas para os donos do poder, que não querem outra coisa na vida a não ser o socialismo.
Não existem enganos que só geram benefícios aos seus proponentes. Isto não é engano. É acerto.

(2) Após a materialização de um “engano”, as pessoas deveriam querer reverter a situação, e ocorre o oposto
Ainda sobre o engano, quando ele se materializa, as pessoas tendem a lutar para reverter a situação, mesmo que muitas vezes não consigam. Imagine o caso de Andressa Urach, que implantou hidrogel em suas pernas e teve uma infecção. Ela comentou várias vezes o quanto queria voltar atrás nesta decisão. Por sorte, ela se recuperou, mas não conseguiu voltar atrás por completo. Esse comportamento de querer reverter os resultados é típico diante de um engano. Diante de enganos, ou aprendemos com eles ou tentamos revertê-los.
Mas com o socialismo ocorre exatamente o oposto: nenhum dos líderes que chegaram ao poder via socialismo querem abandoná-lo, e muito menos abandonar o poder. Basta observar como se comportam os líderes socialistas e veja como eles não querem, de jeito nenhum, abandonar o barco. O PT é um exemplo clássico: o partido que “faz o diabo” para se manter no poder sabe que o socialismo é bom demais para ser abandonado.
Como pode ser um engano algo que, após ter dado resultado aos seus proponentes, não pode ser abandonado de forma alguma? Obviamente, não é um engano.

(3) Se fosse um “engano” efetivamente, as pessoas que causaram o engano deveriam encarar a situação de frente para se safarem dos problemas causados por ele
Diante de um engano, as pessoas precisam dizer a verdade, ao menos temporariamente, se querem corrigir a situação. Isto porque elas precisarão muitas vezes da ajuda de outras pessoas. Se você mentir o tempo todo, prejudicará a possibilidade de elas o auxiliarem. Voltemos ao caso de Andressa Urach. Se ela usou hidrogel, deveria contar os fatos e também dizer, de verdade, seus sintomas. Acreditamos, aliás, que ela o fez. Sem isso, ficaria difícil para alguém ajudá-la. Não é difícil imaginar porque é preciso encarar a situação de frente para se safar de um engano.
Ao contrário, os socialistas aprendem técnicas para mentir, ensinadas desde os tempos de Lenin, Trotsky e Grasmsci, que são exatamente feitas para que elas permaneçam no poder de acordo com o socialismo. Ou seja, se houvesse um “engano”, como elas criariam muralhas de engodos e embustes para impedir-nos de “ajudá-los”?
Na verdade, eles mentem tão compulsivamente porque sabem que o socialismo é bom demais para eles. Como não querem perder o ouro conquistado, mentem para atrapalhar qualquer um que queira “ajudá-los”. É claro que eles sabem que são os espertos, enquanto os que acham que estão enganados é que são os tolos da história.
Enfim, estes três argumentos são facilmente comprováveis na análise do comportamento dos líderes esquerdistas e de seus principais formadores de opinião. O socialismo não pode jamais ser um engano, pois foi feito para que eles tivessem poder totalitário. E eles conseguem o poder. Planos seguidos à risca não são enganos. Com o socialismo em uso, eles não querem largá-lo. Se fosse um engano, quereriam. Mas ninguém se agarra a um “engano” desta forma. Tente tirá-los do poder obtido via socialismo e veja como é difícil. E, por fim, eles tanto sabem que não são “vítimas de enganos” pois criaram até uma muralha de mentiras para evitar que você possa “ajudá-los”. É que eles sabem que não precisam de ajuda alguma, pois conquistaram (ou estão em processo de conquista) aquilo que sempre esteve no centro de seus desejos.
Sendo assim, vamos parar com essa conversa de “socialismo fracassou”? Ao contrário, o socialismo é a melhor tecnologia política para seu objetivo (obter poder totalitário). É por isso que temos que lutar contra esta tecnologia. Caso você ainda queira percebê-los como “enganados”, vai acabar se contaminando de sentimentos inconscientes de compaixão, o que só vai atrapalhá-lo nesta luta. Muito provavelmente você será abatido no meio do caminho por causa de colapsos cerebrais. Para evitar este colapso, melhor ver o socialismo como ele é, e não por uma visão ingênua.
O socialismo deve ser prioritariamente combatido por ser um sucesso de acordo com seu objetivo (dar poder totalitário aos seus líderes). Simples assim.


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segunda-feira, 4 de maio de 2015

O que Richa e outros governos não-petistas devem fazer contra o terrorismo bolivariano?

cinismoO que vou escrever aqui pode ser polêmico, mas infelizmente na atual configuração de guerra com o PT devemos fazer alguns sacrifícios iguais aos feitos pelos aliados na luta contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial. O fato é que os métodos tradicionais de reação não funcionarão. Então, ao menos em alguns aspectos, devemos estar prontos para a dureza de uma guerra.

O fato é que o PT joga sujo, em todas as instâncias da guerra política. Se nada for feito, eles conseguem o poder totalitário. Ou seja, não podemos deixar de fazer nada. Mas não podemos também sermos os “santinhos”. Temos que entender a dureza do combate e, de acordo com nossos princípios morais, tomar algumas ações mais do que úteis.

As manifestações do Paraná foram feitas para criar um discurso de “coitadinhos”, pois, em ações terroristas, pessoas do MST, Black Blocs e outros aparelhos do PT partiram para cima da polícia. Como eles perderam o apoio da sociedade, essa será a tática decisiva para eles. Alias, lá no Paraná não deu certo. Se eles acharam que isso iria resultar em manifestações por todo o Brasil, deu em água. Mas o fato é que eles vão tentar de novo, agora em São Paulo. E de novo no Paraná. E em qualquer estado governado por opositores. Alias, as greves de professores tem ocorrido em estados governados por opositores do PT. 

Não nasci ontem.
A tática bolivariana é esta:
  1. Efetuar ataques terroristas infiltrando-se no meio de professores
  2. Obter a reação da polícia diante do terrorismo
  3. Expor as pessoas que sofreram a reação como “vítimas”
Ou seja, este é um jogo fácil para eles, pois basta executarem o passo 1, já que as mentes normais irão buscar a defesa. É aqui que a tática de retorno precisa ser mudada. Como eu já disse antes, temos que assumir que lutamos com perfis sórdidos como eram os nazistas. Não podemos usar o pensamento tradicional. Temos que olhar para estratégias de guerra mais avançadas.

A solução é a seguinte: na próxima tentativa de invasão de assembléia (ou de qualquer outro ambiente democrático), a polícia precisa se organizar em faixas diferentes. O erro no Paraná foi tentarem defender um espaço muito grande. Observe que a polícia estava fora da Assembléia. A tática agora deve ser a seguinte. 

Organizar uma barragem de policiais apenas de “paz e amor”, que estaria ali para não oferecer resistência (e nem justificar violência). Essa faixa inclusive só comunicaria, por megafones, que é ilegal a invasão do local, mas não faria nada. Uma turma de policiais filmando a invasão seria o ideal. A partir daí, os invasores poderiam destruir tudo que vissem pela frente. A polícia não faria nada em relação a isso. Mas aí eles chegariam na entrada da Assembléia, que estaria reforçada com muralhas anti-invasão.

Ou seja, eles só poderiam entrar na Assembléia realizando um ato de destruição terrorista ainda mais explícito, o qual seria filmado por esses policiais. Mas e se eles conseguirem destruir a muralha? Não importa. O que importa é que eles sejam filmados fazendo isso. E então, após terem feito isso, as imagens já vão ser expostas e dificilmente a mídia conseguirá escondê-las. E então, nos corredores que levam à Assembleia, eles encontrariam a Tropa de Choque. Mas observe que essa tropa só seria encontrada após eles terem feito uma destruição do patrimônio público. E enfim, essa tropa poderia agir.

Esta é uma ação que frustraria a tática bolivariana. Infelizmente, a Polícia Militar do Paraná não percebeu esta tática. E por isso agora estão aturando capitalizações petistas. Para estes últimos, a coisa é suja neste nível mesmo. Enfim, ou nos preparamos mentalmente para este tipo de confronto ou eles se dão bem.
Com esta tática, os petistas se darão mal em termos políticos. E daí é claro que eles dirão que “a polícia amoleceu”. Mas aí é só dizer: “O que você queria que a PM fizesse? Estamos aqui para garantir a segurança dos manifestantes”. Pode parecer cínico? Sim. Mas lembre-se que é como lutar contra os nazistas na Segunda Guerra Mundial.

  

domingo, 3 de maio de 2015

O ESQUERDISTA, quem é ele?

Este material me foi enviado por um colaborador, reproduzo na íntegra para não perder a originalidade. A autoria deste pode ser um nome verdadeiro ou apenas um pseudônimo, que não vem muito ao caso. De qualquer forma, estou dando crédito ao autor, seja nome verdadeiro ou pseudônimo. 

Isto se chama sátira ao que se vê no mundo político brasileiro, em menor ou maior grau, do que é narrado aqui. Vamos à sátira. 

Por Anatoli Oliynik

O esquerdista é um doente mental que precisa de ajuda e não sabe. Um sujeito miserável que necessita da piedade humana. Mas cuidado com ele. Por ser um ser desprezível, abjeto, infame torpe, vil, mísero, malvado, perverso e cruel, todos sinônimos é verdade, mas suficientemente para definir seu verdadeiro perfil, ele é perigoso e letal.

É um sociopata camuflado, um psicótico social que imagina ser Deus e centro do mundo. Na sua imaginação acha que é capaz de solucionar todos os problemas da humanidade e do mundo manifestado, mas que na verdade quer solucionar os seus próprios, que projeta nos outros para iludir-se de ser altruísta.

É um invejoso. A inveja é a sua marca registrada. Sente ódio doentio e permanente pelas pessoas de sucesso, notadamente aquelas realizadas financeira e economicamente. O sucesso alheio corrói suas entranhas. É aquele sujeito que passa pelo bosque e só vê lenha para alimentar a fogueira de seu ódio pelo sucesso alheio.

É um fracassado em todos os sentidos. Para justificar o seu fracasso busca desesperadamente culpados para a sua incompetência pessoal, profissional e humana. No seu conceito, a culpa é sempre dos outros, nunca atribuída a ele mesmo. É um sujeito que funciona como uma refinaria projetada para transformar insatisfações pessoais e sociais em energia pura para promover a revolução proletária.

É um cínico. Não no conceito doutrinário de uma das escolas socráticas, mas no sentido de descaramento. Portanto, um sujeito sem escrúpulos, hipócrita, sarcástico e oportunista. Para justificar seu fracasso e sua incompetência pessoal, se coloca na condição de defensor do bem-estar da sociedade e da humanidade, quando na verdade busca atender aos seus interesses pessoais, inconfessos. Para isso, se coloca na postura de bom samaritano e entra na vida das pessoas simples e desprovidas da própria sorte, com seu discurso mefistofélico.

É um ateu. Devido a sua psicose, já comentada anteriormente, destitui Deus e se coloca no lugar d’Ele para distribuir justiça, felicidade e bem-estar social, solucionar todos os problemas do mundo e da humanidade, dentre outros que-jandos. É um indivíduo que tem a consciência moral deformada e deseja, acima de tudo, destruir todos os valores cristãos e construir um mundo novo, segundo suas concepções paranóicas.

É um narcisista. A sua única paixão é por si mesmo, embora use da artimanha para parecer um sujeito preocupado com os outros, no fundo não passa de um egoísta movido pelo instinto de autoconservação.

É um niilista. Um sujeito que renega os valores metafísicos divinos e procura demolir todos os valores já estabelecidos e consagrados pela humanidade para substituí-los por novos, originários de sua própria demência. Assim, ele redireciona a sua força vital para a destruição da moral, dos valores cristãos, das leis etc. Sua vida interior é desprovida de qualquer sentido, ele reina no absurdo. É o “profeta da utopia” e o “filósofo do nada”.

É um genocida cultural. Na sua vasta ignorância da realidade do mundo manifestado, o esquerdista acha que o mundo é a expressão das idéias nascidas de sua mente deformada e assim se organiza em grupos para destruir a cultura de uma sociedade, construída a custa de muitos sacrifícios e longos anos de experiência da humanidade.

Agora que você conhece algumas características do esquerdista, fica um conselho: jamais discuta com um deles, porque a única coisa que ele consegue falar é chamá-lo de reacionário, nazista, capitalista e burguês. Ele repete isso o tempo todo e para todos que o contradizem, pois a única coisa que sua mente deformada consegue assimilar, são essas palavras. Com muito custo ele consegue pronunciar mais um ou dois verbetes na mesma linha aos já descritos, todos para desqualificá-lo e assim expressar a sua soberba.

Os conceitos atribuídos ao esquerdista se aplicam em gênero, número e grau aos socialistas, marxistas, leninistas, stalinistas, trotskistas, comunistas, maoístas, gramscistas, fidelistas, chevaristas, chavistas e especialmente aos membros da família dos moluscos cefalópodes.

Para finalizar, porém longe de esgotar o assunto, o esquerdista é aquele sujeito cuja figura externa é enormemente maior que a própria realidade. Sintetiza o cavaleiro solitário no deserto do absurdo, cuja ambição diabólica é querer mandar no mundo.


Anatoli Oliynik

sexta-feira, 1 de maio de 2015

A propriedade privada e o desejo de morte dos anarco-comunistas

por Murray N. Rothbard,

N. do T.: algumas pessoas - normalmente detratores - confundem o anarquismo de mercado (ausência de estado, livre concorrência e respeito à propriedade privada) proposto por alguns seguidores da Escola Austríaca com o anarquismo de cunho comunista, que é o ramo mais famoso do próprio conceito de anarquismo - conceito este bastante volúvel.  Esse artigo visa a esclarecer essa confusão.


anarchocommunism.jpgDepois que a Nova Esquerda abandonou sua postura antiga - que era imprecisa, flexível e não ideológica -, duas ideologias passaram a ser adotadas pelos Novos Esquerdistas como suas guias teóricas: o marxismo-stalinismo e o anarco-comunismo.

O marxismo-stalinismo infelizmente conquistou a maioria dos partidos autoproclamados de esquerda; porém o anarco-comunismo conseguiu atrair muitos esquerdistas que querem se desassociar da tirania burocrática e estatizante que marcou a jornada stalinista.
E muitos libertários - que estão à procura de novos métodos de atuação e de aliados para tais empreitadas - acabaram se sentindo atraídos por um credo anarquista que aparentemente exalta o voluntarismo e clama pela abolição do estado coercivo.
Entretanto, trata-se de uma jogada fatal abandonar e perder o contato com os próprios princípios apenas para sair em busca de alguns aliados para ações táticas e específicas.
O anarco-comunismo, tanto na sua forma original (como proposto por Mikhail Bakunin e Pyotr Kropotkin) quanto em sua variedade atual ("pós-escassez" e irracionalista), está no extremo oposto do genuíno princípio libertário.  
Se há uma coisa que os anarco-comunistas odeiam e vilipendiam mais do que o estado, é o direito sobre a propriedade privada.  Na realidade, a principal razão pela qual os anarco-comunistas se opõem ao estado é porque eles erroneamente creem que o estado é o criador e o protetor da propriedade privada - e que, portanto, a única maneira de se abolir a propriedade privada é destruindo o aparato estatal.
Eles são completamente incapazes de entender que o estado sempre foi o grande inimigo e o grande invasor dos direitos de propriedade.
Ademais, ao detestarem e desprezarem o livre mercado, a economia baseada no mecanismo de lucros e prejuízos, a propriedade privada e a riqueza material - sendo que todas são corolários umas da outras -, os anarco-comunistas desastrosamente confundem anarquismo com a vivência em sociedades comunais - nas quais as pessoas vivem como tribos que compartilham tudo o que produzem - e com outros aspectos da emergente "subcultura juvenil", com sua apologia do rock e das drogas.
A única coisa positiva que se pode dizer sobre o anarco-comunismo é que, ao contrário do stalinismo, trata-se de uma forma de comunismo que, supostamente, seria voluntária.  Presumivelmente, ninguém seria forçado a se juntar às comunas, e aqueles que quisessem continuar a viver individualmente, incorrendo em atividades de mercado, não seriam molestados.
Mas será que não?
Os anarco-comunistas sempre foram extremamente vagos e obscuros quanto às feições da sua sugerida sociedade anarquista do futuro.  Muitos deles já propuseram a doutrina profundamente antilibertária de que a revolução anarco-comunista terá de confiscar e abolir toda a propriedade privada - com o intuito de anular o apego psicológico que as pessoas têm para com as propriedades de que são donas.
Ademais, é difícil esquecer o fato de que, quando os anarquistas espanhóis (anarco-comunistas da linhagem Bakunin-Kropotkin) tomaram o controle de amplas seções da Espanha durante a Guerra Civil da década de 1930, eles confiscaram e destruíram todo o dinheiro dessas áreas e prontamente decretaram a pena de morte para qualquer um que transacionasse em moedas.  Isso não é exatamente um exemplo edificante das boas e voluntaristas intenções dos anarco-comunistas.
Em todas as outras áreas, o anarco-comunismo varia do perverso ao absurdo.
Filosoficamente, esse credo é um completo assalto ao individualismo e à razão.  O desejo natural que o indivíduo tem pela propriedade privada, aliado a seus esforços para melhorar de vida, para se especializar em algo, para acumular lucros e renda, são vilipendiados por todos os ramos do comunismo.  Ao invés de estimular o mérito, todos os indivíduos supostamente devem viver em comunas, compartilhando com seus companheiros todos os seus escassos bens, e tomando o máximo de cuidado para não superar o padrão de vida de seus irmãos comunais.
Na raiz de todas as formas de comunismo, compulsório ou voluntário, jazem um profundo ódio pela excelência individual, uma rejeição à superioridade natural e intelectual de alguns homens em relação a outros, e um desejo de reduzir cada indivíduo a meros participantes de um ninho comunal de formigas.  Em nome de um falso "humanismo", um desejo irracional e profundamente anti-humano de igualitarismo deve roubar de cada indivíduo sua específica e preciosa humanidade.
Mais ainda: o anarco-comunismo despreza a razão e todos os seus corolários de longo prazo: prudência, trabalho duro e conquista individual.  Ao invés disso, tal ideologia exalta os sentimentos irracionais, as fantasias e as extravagâncias - tudo isso em nome da "liberdade".  A "liberdade" do anarco-comunista nada tem a ver com a genuinamente libertária ausência de molestamento ou de invasão interpessoal; trata-se, ao contrário, de uma "liberdade" que representa uma escravização à insensatez, à irracionalidade, às fantasias e às extravagâncias infantis.  Social e filosoficamente, o anarco-comunismo é um infortúnio.
Economicamente, o anarco-comunismo é uma absurdidade, uma besteira ridícula e sem lógica.  Os anarco-comunistas querem abolir o dinheiro, os preços e o emprego, e propõem conduzir uma economia moderna de uma maneira um tanto peculiar, para não dizer risível: por meio do registro automático das "necessidades da comunidade" em algum banco de dados central.  Qualquer pessoa que tenha o mais parco conhecimento de economia não deve perder um único segundo de seu tempo com essa teoria.
Ainda em 1920, Ludwig von Mises expôs a total incapacidade de uma economia planejada e sem dinheiro operar além de seu nível mais primitivo.  Ele demonstrou que os preços monetários são indispensáveis para uma alocação racional de todos os nossos escassos recursos - terra, trabalho e bens de capital.  Somente o sistema de preços permite que tais recursos possam ser racionalmente direcionados para os setores e áreas onde eles são mais desejados pelos consumidores e onde eles podem operar com sua maior eficiência.  Os socialistas reconheceram a precisão do desafio de Mises, e começaram - em vão - a procurar uma maneira de ter um sistema racional de preços de mercado dentro do contexto de uma economia socialista planejada.
Os russos, ao tentarem criar, logo após a Revolução Bolchevique, uma economia comunista e sem a circulação de dinheiro com seu programa "Comunismo de Guerra", reagiram horrorizados quando viram a economia russa à beira do precipício.  O próprio Stalin nunca tentou revivê-la.  E desde a Segunda Guerra Mundial os países do Leste Europeu vivenciaram um total abandono desse ideal comunista e uma rápida guinada a mercados mais livres, a um livre sistema de preços, à adoção do mecanismo de lucros e prejuízos, e a uma promoção da riqueza dos consumidores.
Não foi nenhum acaso que tenham sido exatamente os economistas dos países comunistas os responsáveis por liderar essa mudança de rumo repentina, saindo do comunismo, socialismo e do planejamento central, e indo em direção a mercados mais livres.  Não é nenhum crime ser ignorante em economia, a qual, afinal, é uma disciplina específica e considerada pela maioria das pessoas uma "ciência lúgubre".  Porém, é algo totalmente irresponsável vociferar opiniões estridentes sobre assuntos econômicos quando se está nesse estado de ignorância.  Entretanto, esse tipo de ignorância agressiva é inerente ao credo do anarco-comunismo.
O mesmo comentário pode ser feito em relação à muito difundida crença, seguida por muitos dos Novos Esquerdistas e por todos os anarco-comunistas, de que não mais precisamos nos preocupar com economia e com métodos de produção, pois supostamente já estamos vivendo em um mundo "pós-escassez", onde tais problemas inexistem.  Porém, embora nossa condição de escassez seja claramente superior àquela do homem das cavernas, ainda estamos vivendo em um mundo de generalizada escassez econômica.
Como saberemos que o mundo atingiu a "pós-escassez"?  Simplesmente quando todos os bens e serviços que quisermos tornarem-se tão superabundantes que seus preços sejam zero; ou seja, quando pudermos adquirir todos os bens e serviços como se estivéssemos no Jardim do Éden - sem esforço, sem trabalho e sem utilizar quaisquer recursos escassos.
O espírito anti-racional dos anarco-comunistas foi bem expressado por Norman O. Brown, um dos gurus da nova "contracultura":
O grande economista von Mises tentou refutar o socialismo demonstrando que, ao se abolir as trocas, o socialismo tornava impossível o cálculo econômico - e, logo, a racionalidade econômica .... Porém, se von Mises estiver certo, então o que ele descobriu não foi uma refutação, mas uma justificativa psicanalítica do socialismo .... É uma das tristes ironias da vida intelectual contemporânea que a resposta dos economistas socialistas aos argumentos de von Mises tenha sido tentar demonstrar que o socialismo não era incompatível com o "cálculo econômico irracional" - isto é, que ele poderia preservar o desumano princípio da moderação e da frugalidade (Life Against Death, Random House,1959, pp. 238-39.)
O fato de que o abandono da racionalidade e da lógica econômica em nome da "liberdade" e das fantasias irá levar ao esfacelamento da civilização e dos modernos métodos de produção e nos devolver ao barbarismo não inquietam os anarco-comunistas e os outros expoentes da nova "contracultura".  Mas o que eles parecem não perceber é que os resultados desse retorno ao primitivismo seriam a fome generalizada e a morte de quase toda a humanidade - e um tormentoso estado de subsistência para aqueles que conseguirem sobreviver.
Se eles tivessem a chance de implementar seu modelo, perceberiam que é realmente um tanto difícil ser alegre e se sentir "irreprimido" quando se está morrendo de fome.  Tudo isso nos leva à sabedoria do grande filósofo espanhol Ortega y Gasset:
Nos distúrbios causados pela escassez de comida, a turba sai em busca de pão, e os meios que ela utiliza normalmente envolvem a destruição das padarias.  Isso pode servir como símbolo da atitude adotada, em escala maior e mais complicada, pelas massas de hoje para com a civilização que as sustenta .... A civilização não é algo que "apenas está aqui"; ela não é algo que se auto-sustenta.
Ela é artificial .... se você quiser fazer uso das vantagens da civilização, mas não está preparado para se preocupar com a conservação da civilização - você está acabado.  Instantaneamente, você se descobrirá sem civilização.  Apenas um escorregão e, quando você atinar, tudo já terá desaparecido no ar.  A floresta primitiva aparecerá em seu estado nativo, como se as cortinas que cobrem a natureza pura tivessem sido recolhidas.  A selva sempre é primitiva e vice-versa: tudo o que é primitivo é meramente uma selva. (José Ortega y Gasset, A Revola das Massas, New York: W.W. Norton, 1932, p. 97.)

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Murray N. Rothbard (1926-1995) foi um decano da Escola Austríaca e o fundador do moderno libertarianismo. Também foi o vice-presidente acadêmico do Ludwig von Mises Institute e do Center for Libertarian Studies. 

O que os nazistas copiaram de Marx

KarlMarxWithHitlerMask.jpgO marxismo afirma que a forma de pensar de uma pessoa é determinada pela classe a que pertence.  Toda classe social tem sua lógica própria.  Logo, o produto do pensamento de um determinado indivíduo não pode ser nada além de um "disfarce ideológico" dos interesses egoístas da classe à qual ele pertence.  A tarefa de uma "sociologia do conhecimento", segundo os marxistas, é desmascarar filosofias e teorias científicas e expor o seu vazio "ideológico".  A economia seria um expediente "burguês" e os economistas são sicofantas do capital.  Somente a sociedade sem classes da utopia socialista substituirá as mentiras "ideológicas" pela verdade.
Este polilogismo, posteriormente, assumiu várias outras formas.  O historicismo afirma que a estrutura lógica da ação e do pensamento humano está sujeita a mudanças no curso da evolução histórica. O polilogismo racial atribui a cada raça uma lógica própria.
O polilogismo, portanto, é a crença de que há uma multiplicidade de irreconciliáveis formas de lógica dentro da população humana, e estas formas estão subdivididas em algumas características grupais.
Os nazistas fizeram amplo uso do polilogismo.  Mas os nazistas não inventaram o polilogismo.  Eles apenas criaram seu próprio estilo de polilogismo.
Até a metade do século XIX, ninguém se atrevia a questionar o fato de que a estrutura lógica da mente era imutável e comum a todos os seres humanos.  Todas as interrelações humanas são baseadas nesta premissa de que há uma estrutura lógica uniforme.  Podemos dialogar uns com os outros apenas porque podemos recorrer a algo em comum a todos nós: a estrutura lógica da razão.
Alguns homens têm a capacidade de pensar de forma mais profunda e refinada do que outros.  Há homens que infelizmente não conseguem compreender um processo de inferência em cadeias lógicas de pensamento dedutivo.  Mas, considerando-se que um homem seja capaz de pensar e trilhar um processo de pensamento discursivo, ele sempre aderirá aos mesmos princípios fundamentais de raciocínio que são utilizados por todos os outros homens.  Há pessoas que não conseguem contar além de três; mas sua contagem, até onde ele consegue ir, não difere da contagem de Gauss ou de Laplace. Nenhum historiador ou viajante jamais nos trouxe nenhuma informação sobre povos para quem A e não-A fossem idênticos, ou sobre povos que não conseguissem perceber a diferença entre afirmação e negação.  Diariamente, é verdade, as pessoas violam os princípios lógicos da razão. Mas qualquer um que se puser a examinar suas deduções de forma competente será capaz de descobrir seus erros.
Uma vez que todos consideram tais fatos inquestionáveis, os homens são capazes de entrar em discussões e argumentações.  Eles conversam entre si, escrevem cartas e livros, tentam provar ou refutar.  A cooperação social e intelectual entre os homens seria impossível se a realidade não fosse essa. Nossas mentes simplesmente não são capazes de imaginar um mundo povoado por homens com estruturas lógicas distintas ente si ou com estruturas lógicas diferentes da nossa.
Mesmo assim, durante o século XIX, este fato inquestionável foi contestado.  Marx e os marxistas, entre eles o "filósofo proletário" Dietzgen, ensinaram que o pensamento é determinado pela classe social do pensador.  O que o pensamento produz não é a verdade, mas apenas "ideologias".  Esta palavra significa, no contexto da filosofia marxista, um disfarce dos interesses egoístas da classe social à qual pertence o pensador.  Por conseguinte, seria inútil discutir qualquer coisa com pessoas de outra classe social.  Não seria necessário refutar ideologias por meio do raciocínio discursivo; ideologias devem apenas ser desmascaradas, denunciando a classe e a origem social de seus autores. Assim, os marxistas não discutem os méritos das teorias científicas; eles simplesmente revelam a origem "burguesa" dos cientistas.
Os marxistas se refugiam no polilogismo porque não conseguem refutar com métodos lógicos as teorias desenvolvidas pela ciência econômica "burguesa"; tampouco conseguem responder às inferências derivadas destas teorias, como as que demonstram a impraticabilidade do socialismo.  Dado que não conseguiram demonstrar racionalmente a validade de suas idéias e nem a invalidade das idéias de seus adversários, eles simplesmente passaram a condenar os métodos lógicos.  O sucesso deste estratagema marxista foi sem precedentes.  Ele tornou-se uma blindagem contra qualquer crítica racional à pseudo-economia e à pseudo-sociologia marxistas. Ele fez com que todas as críticas racionais ao marxismo fossem inócuas.
Foi justamente por causa dos truques do polilogismo que o estatismo conseguiu ganhar força no pensamento moderno.
O polilogismo é tão inerentemente ridículo, que é impossível levá-lo consistentemente às suas últimas consequências lógicas. Nenhum marxista foi corajoso o suficiente para derivar todas as conclusões que seu ponto de vista epistemológico exige.  O princípio do polilogismo levaria à inferência de que os ensinamentos marxistas também não são objetivamente verdadeiros, mas sim apenas afirmações "ideológicas".  Mas isso os marxistas negam.  Eles reivindicam para suas próprias doutrinas o caráter de verdade absoluta.  
Dietzgen ensina que "as idéias da lógica proletária não são idéias partidárias, mas sim o resultado da mais pura e simples lógica".  A lógica proletária não é "ideologia", mas sim lógica absoluta.  Os atuais marxistas, que rotulam seus ensinamentos de sociologia do conhecimento, dão provas de sofrerem desta mesma inconsistência.  Um de seus defensores, o professor Mannheim, procura demonstrar que há certos homens, os "intelectuais não-engajados", que possuem o dom de apreender a verdade sem serem vítimas de erros ideológicos.  Claro, o professor Mannheim está convencido de que ele mesmo é o maior dos "intelectuais não-engajados".  Você simplesmente não pode refutá-lo. Se você discorda dele, você estará apenas provando que não pertence à elite dos "intelectuais não-engajados", e que seus pensamentos são meras tolices ideológicas.
Os nacional-socialistas alemães tiveram de enfrentar o mesmo problema dos marxistas.  Eles também não foram capazes nem de demonstrar a veracidade de suas próprias declarações e nem de refutar as teorias da economia e da praxeologia.  Consequentemente, eles foram buscar abrigo no polilogismo, já preparado para eles pelos marxistas.  Sim, eles criaram sua própria marca de polilogismo.  A estrutura lógica da mente, diziam eles, é diferente para cada nação e para cada raça.  Cada raça ou nação possui sua própria lógica e, portanto, sua própria economia, matemática, física etc.  Porém, não menos inconsistente do que o Professor Mannheim, o professor Tirala, seu congênere defensor da epistemologia ariana, declara que a única lógica e ciência verdadeiras, corretas e perenes são as arianas.  Aos olhos dos marxistas, Ricardo, Freud, Bergson e Einstein estão errados porque são burgueses; aos olhos dos nazistas, estão errados porque são judeus.  Um dos maiores objetivos dos nazistas é libertar a alma ariana da poluição das filosofias ocidentais de Descartes, Hume e John Stuart Mill.  Eles estão em busca da ciência alemã arteigen, ou seja, da ciência adequada às características raciais dos alemães.
Como hipótese, podemos supor que as capacidades mentais do homem sejam resultado de suas características corporais.  Sim, não podemos demonstrar a veracidade desta hipótese, mas também não é possível demonstrar a veracidade da hipótese oposta, conforme expressada pela hipótese teológica.  Somos forçados a admitir que não sabemos como os pensamentos surgem dos processos fisiológicos. Temos vagas noções dos danos causados por traumatismos ou por outras lesões infligidas em certos órgãos do copo; sabemos que tais danos podem restringir ou destruir por completo as capacidades e funções mentais dos homens.  Mas isso é tudo.  Seria uma enorme insolência afirmar que as ciências naturais nos fornecem informações a respeito da suposta diversidade da estrutura lógica da mente.  O polilogismo não pode ser derivado da fisiologia ou da anatomia, e nem de nenhuma outra ciência natural.
Nem o polilogismo marxista e nem o nazista conseguiram ir além de declarar que a estrutura lógica da mente é diferente entre as várias classes ou raças.  Eles nunca se atreveram a demonstrar precisamente no quê a lógica do proletariado difere da lógica da burguesia, ou no quê a lógica ariana difere da lógica dos judeus ou dos ingleses.  Rejeitar a teoria das vantagens comparativas de Ricardo ou a teoria da relatividade de Einstein por causa das origens raciais de seus autores é inócuo.  Primeiro, seria necessário desenvolver um sistema de lógica ariana que fosse diferente da lógica não-ariana.  Depois, seria necessário examinar, ponto por ponto, estas duas teorias concorrentes, e mostrar onde, em cada raciocínio, são feitas inferências que são inválidas do ponto de vista da lógica ariana mas corretas do ponto de vista não-ariano.  E, finalmente, seria necessário explicar a que tipo de conclusão a substituição das erradas inferências não-arianas pelas corretas inferências arianas deve chegar.  Mas isso jamais foi e jamais será tentado por ninguém.  Aquele gárrulo defensor do racismo e do polilogismo ariano, o professor Tirala, não diz uma palavra sobre a diferença entre a lógica ariana e a lógica não-ariana. O polilogismo, seja ele marxista ou nazista, jamais entrou em detalhes.
O polilogismo possui um método peculiar de lidar com opiniões divergentes.  Se seus defensores não forem capazes de descobrir as origens e o histórico de um oponente, eles simplesmente taxam-no de traidor.  Tanto marxistas quanto nazistas conhecem apenas duas categorias de adversários.  Os alienados — sejam eles membros de uma classe não-proletária ou de uma raça não-ariana — estão errados porque são alienados.  E os opositores que são de origem proletária ou ariana estão errados porque são traidores.  Assim, eles levianamente descartam o incômodo fato de que há divergências entre os membros daquela que dizem ser sua classe ou sua raça.
Os nazistas gostam de contrastar a economia alemã com as economias judaicas e anglo-saxônicas.  Mas o que chamam de economia alemã não difere em nada de algumas tendências observadas em outras economias.  A economia nacional-socialista foi moldada tendo por base os ensinamentos do genovês Sismondi e dos socialistas franceses e ingleses. Alguns dos mais velhos representantes desta suposta economia alemã apenas importaram idéias estrangeiras para a Alemanha.  Frederick List trouxe as idéias de Alexander Hamilton à Alemanha; Hildebrand e Brentano trouxeram as idéias dos primeiros socialistas ingleses.  A economia alemã arteigen é praticamente igual às tendências contemporâneas observadas em outros países, como, por exemplo, o institucionalismo americano.
Por outro lado, o que os nazistas chamam de economia ocidental — e, portanto, artfremd [estranho à raça] — é em grande medida uma conquista de homens a quem que nem mesmo os nazistas podem negar o termo 'alemão'. Os economistas nazistas gastaram muito tempo pesquisando a árvore genealógica de Carl Menger à procura de antepassados judeus; não conseguiram.  É um despautério querer explicar o conflito que há entre a genuína teoria econômica e o institucionalismo e o empiricismo histórico como se fosse um conflito racial ou nacional.
O polilogismo não é uma filosofia ou uma teoria epistemológica.  É apenas uma postura de fanáticos de mentalidade estreita que não conseguem conceber que haja pessoas mais sensatas ou mais inteligentes que eles próprios.  Tampouco é o polilogismo algo científico.  Trata-se da substituição da razão e da ciência pela superstição.  É a mentalidade característica de uma era caótica.

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Artigo extraído do livro Omnipotent Government: The Rise of Total State and Total War, originalmente publicado em 1944.



Ludwig von Mises  foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico.  Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política.  Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico.  Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".

O socialismo na prática - o laboratório da morte

por Gary North


the-death-of-communism-1366x768.jpgVocê sabe qual foi ou qual é o experimento socialista mais longevo da história do mundo?  Você sabe qual foi o sucesso deste experimento?
Se alguém lhe pedisse para defender a ideia de que o socialismo fracassou, qual exemplo você forneceria?
Onde o formato moderno de socialismo começou?
Nos Estados Unidos.
É isso mesmo: na "terra da liberdade".  Mais especificamente, nas reservas indígenas, sob o comando da Agência de Questões Indígenas, subordinada ao Ministério do Interior.
As reservas indígenas foram inventadas com o intuito de controlar combatentes adultos.  Elas tinham como objetivo manter a população nativa pobre e impotente.
O sistema funcionou?  Pode ter certeza.
O experimento tem se mostrado um fracasso?  Muito pelo contrário, tem sido um sucesso total.
Quando foi a última vez que se ouviu a respeito de alguma insurreição dos índios americanos?
Eles são pobres?  Os mais pobres dos EUA.
Eles recebem auxílios do governo americano?  É claro que sim.
No ano passado, o Ministério da Agricultura dos EUA destinou US$21 milhões para subsidiar eletricidade para os moradores daquelas reservas indígenas cujas casas são as mais isoladas de empregos e oportunidades de trabalho.  Você pode ler mais a respeito aqui.  Como toda e qualquer medida assistencialista, esta é apenas mais uma para mantê-los continuamente pobres.  Eletricidade tribal significa impotência tribal. 
As tribos são dependentes.  Elas permanecerão dependentes.  O programa foi criado exatamente para este objetivo.
Por alguma razão, os livros-textos de economia não oferecem sequer uma página relatando a corrupção, a burocratização e a pobreza multigeracional criadas por este socialismo tribal.  Temos aqui uma série de exemplos de laboratórios sociais gerenciados pelo governo.  Quão exitosos eles têm se mostrado?  Onde estão as reservas que de maneira sistemática tiraram pessoas da pobreza?
A próxima será a primeira.

O paraíso dos trabalhadores
A União Soviética foi o paraíso socialista dos trabalhadores de 1917 a 1991.  Como resultado direto deste experimento, pelo menos 30 milhões de russos morreram.  Os números verdadeiros podem ser o dobro desta cifra.  Já o experimento chinês foi mais curto: de 1949 a 1978.  Talvez 60 milhões de chineses tenham morrido.  Há quem fale em 100 milhões.
O sistema foi incapaz de fornecer os bens prometidos.  Não consigo imaginar um tópico mais apropriado para se discutir em uma aula de economia do que o fracasso do socialismo.  O mesmo é válido para um curso sobre a história do mundo moderno.  Qualquer curso decente de ciência política deveria cobrir este fracasso em detalhes.
Mas isso não ocorre, é claro.  Nenhum curso menciona o mais fundamental desafio já proposto à teoria econômica socialista, o ensaio de Ludwig von Mises, escrito em 1920, O cálculo econômico sob o socialismo.  E por que não?  Porque a maioria dos cientistas sociais, economistas e historiadores nunca ouviu falar desta obra.  Entre aqueles com mais de 50 anos de idade, os poucos que já ouviram a respeito ouviram da boca de algum defensor do socialismo ou de algum entusiasta keynesiano, que apenas repetiu o que havia aprendido na sua pós-graduação: que tal ensaio havia sido totalmente refutado por Oskar Lange em 1936.
Mas o que eles nunca dizem é que, quando Lange, um devoto comunista, voltou à sua Polônia natal em 1947 para atuar no alto escalão da burocracia estatal, o governo comunista não pediu para que ele implementasse sua grande teoria do "socialismo de mercado".  Com efeito, nenhum país socialista jamais implementou sua teoria.
Durante 50 anos, poucos livros-textos de economia mencionavam Mises.  E, quando o faziam, era apenas para dizer que ele havia sido totalmente refutado por Lange.  Os acadêmicos do establishment simplesmente jogaram Mises no buraco orwelliano da memória.
No dia 10 de setembro de 1990, o multimilionário escritor, economista e socialista Robert Heilbroner publicou um artigo na revista The New Yorker intitulado "Após o Comunismo".  A URSS já estava em avançado processo de colapso.  Neste artigo, Heilbroner recontou a história da refutação de Mises.  Ele relata que, na pós-graduação, ele e seus pares foram ensinados que Lange havia refutado Mises.  Porém, agora, ele anunciava: "Mises estava certo".  No entanto, em seu best-seller, The Worldly Philosophers, um livro-texto sobre a história do pensamento econômico, ele em momento algum cita o nome de Mises.

Os fracassos visíveis
O fracasso universal do socialismo do século XX começou já nos primeiros meses após a tomada da Rússia por Lênin.  A produção caiu acentuadamente.  Ato contínuo, ele foi forçado a implementar um reforma marginalmente capitalista em 1920, a Nova Política Econômica (NEP).  Ela salvou o regime do colapso.  A NEP foi abolida por Stalin.
Durante as décadas seguintes, Stalin se entregou ao corriqueiro hábito de assassinar pessoas.  A estimativa mínima é de 20 milhões de mortos.  Tal prática era peremptoriamente negada por quase toda a intelligentsia do Ocidente.  Foi somente em 1960 que Robert Conquest publicou seu monumental livro O Grande Terror — Os Expurgos de Stalin.  Sua estimativa atual: algo em torno de 30 milhões.  O livro foi escarnecido à época.  O verbete da Wikipédia sobre o livro é bem acurado.
Publicado durante a Guerra do Vietnã e durante um surto de marxismo revolucionário nas universidades ocidentais e nos círculos intelectuais, O Grande Terror foi agraciado com uma recepção extremamente hostil.
A hostilidade direcionada a Conquest por causa de seus relatos sobre os expurgos foi intensificada por mais dois fatores.  O primeiro foi que ele se recusou a aceitar a versão apresentada pelo líder soviético Nikita Khrushchev, e apoiada por vários esquerdistas do Ocidente, de que Stalin e seus expurgos foram apenas uma "aberração", um desvio dos ideais da Revolução, e totalmente contrários aos princípios do leninismo. Conquest, por sua vez, argumentou que o stalinismo era uma "consequência natural" do sistema político totalitário criado por Lênin, embora reconhecesse que foram os traços característicos da personalidade de Stalin que haviam causado os horrores específicos do final da década de 1930.  Sobre isso, Neal Ascherson observou: "Àquela altura, todos nós concordávamos que Stalin era um sujeito muito perverso e extremamente diabólico, mas ainda assim queríamos acreditar em Lênin; e Conquest disse que Lênin era tão mau quanto Stalin, e Stalin estava simplesmente levando adiante o programa de Lênin".
O segundo fator foi a ácida crítica de Conquest aos intelectuais ocidentais, os quais ele dizia sofrerem de cegueira ideológica quanto às realidades da União Soviética tanto durante a década de 1930 quanto, em alguns casos, até mesmo ainda durante a década de 1960.  Personalidades da intelectualidade e da cultura da esquerda, como Sidney e Beatrice Webb, George Bernard Shaw, Jean-Paul Sartre, Walter Duranty, Sir Bernard Pares, Harold Laski, D.N. Pritt, Theodore Dreiser e Romain Rolland foram acusados de estúpidos a serviço de Stalin e apologistas de seu regime totalitário devido a vários comentários que fizeram negando, desculpando ou justificando vários aspectos dos expurgos.
A esquerda ainda odeia o livro, e continua até hoje tentando dizer que ele exagerou nos números e nos relatos.
E então veio o Livro Negro do Comunismo (1999), que coloca em 85 milhões a estimativa mínima de cidadãos executados pelos comunistas, deixando claro que cifras como 100 milhões ou mais são as mais prováveis.  O livro foi escrito por esquerdistas franceses e publicado pela Harvard University Press, de modo que ele não pôde simplesmente ser repudiado como sendo apenas mais um panfleto direitista.
A esquerda até hoje tenta ignorá-lo.

O blefe dos cegos
A resposta da academia tem sido, até hoje, a de considerar todo o experimento soviético como algo que foi meramente mal orientado, algo que se desencaminhou, e não como algo inerentemente diabólico.  O custo em termos de vidas humanas raramente é mencionado.  Antes de 1991, era algo ainda mais raramente mencionado.  Antes de Arquipélago Gulag (1973), de Solzhenitsyn, era considerado uma imperdoável falta de etiqueta um acadêmico fazer mais do que apenas mencionar muito discretamente e só de passagem toda a carnificina, devendo limitar qualquer crítica apenas aos expurgos do Partido Comunista comandados por Stalin no final da década de 1930, e praticamente quase nunca mencionar que a fome em massa havia sido adotada como uma política pública.  "Ucrânia?  Nunca ouvi falar."  "Kulaks?  O que são kulaks?"
A situação decrépita de todas as economias socialistas, do início ao fim, não é mencionada.  Acima de tudo, não há nenhuma referência aos críticos do Ocidente que alertaram que estas economias eram vilarejos Potemkins em grande escala — cidades falsas criadas pelo governo para ludibriar os leais e românticos esquerdistas que iam à URSS ver o futuro.  E eles voltavam para seus países com relatos entusiásticos e incandescentes.
Há um livro sobre estas ingênuas e crédulas almas, que foram totalmente trapaceadas: Political Pilgrims: Travels of Western Intellectuals to the Soviet Union, China, and Cuba, 1928-1978 de Paul Hollander.  Foi publicado pela Oxford University Press em 1981.  Foi ignorado pela intelligentsia por uma década.
A melhor descrição que já li sobre estas pessoas foi fornecida por Malcolm Muggeridge, que trabalhou no início da década de 1930 como repórter do The Guardian em Moscou.  Tudo o que ele escrevia era censurado antes de ser enviado para a Inglaterra.  E ele sabia disso.  Ele não podia relatar a verdade, e o The Guardian não publicaria caso ele relatasse.  Eis um trecho do volume 1 de sua autobiografia, Chronicles of Wasted Time.
Para os jornalistas estrangeiros que residiam em Moscou, a chegada de ilustres visitantes era também uma ocasião de gala, mas por uma razão diferente.  Eles nos propiciavam nosso melhor — praticamente nosso único — momento de alívio cômico.  Por exemplo, ouvir [George Bernard] Shaw, acompanhado de Lady Astor (que havia sido fotografada cortando o cabelo de Shaw), declarar que estava encantado por descobrir, em meio a um banquete fornecido pelo Partido Comunista, que não havia escassez de comida na URSS, era algo de imbatível efeito humorístico.  Ou ouvir [Harold] Laski cantar glórias à nova Constituição Soviética de Stalin.
Jamais me esquecerei destes visitantes, e jamais deixarei de me assombrar com eles; de como eles discursavam pomposamente sobre as maravilhas do regime, de como eles iluminavam continuamente nossa escuridão, guiando, aconselhando e nos instruindo; em algumas ocasiões, momentaneamente confusos e envergonhados; mas sempre prontos para se reerguer, colocar seus capacetes de papelão, montar em seus Rocinantes, e sair galopando mundo afora em novas incursões em nome dos pobres e oprimidos.
Eles são inquestionavelmente uma das maravilhas de nossa época, e irei guardar para sempre na memória, com grande estima, o espetáculo que era vê-los viajando com radiante otimismo até as regiões famintas do país, vagueando em bandos alegres por cidades esquálidas e sobrepovoadas, ouvindo com inabalável fé as insensatezes balbuciadas por guias cuidadosamente treinados e doutrinados, repetindo, assim como crianças de colégio repetem a tabuada, as falsas estatísticas e os estúpidos slogans que eram incessantemente entoados para eles.
Eis ali, pensava eu ao ver estas celebridades, um ardoroso burocrata de alguma repartição local da Liga das Nações, eis ali um devoto Quaker que já havia tomado chá com Gandhi, eis ali um feroz crítico das exigências de comprovação de renda para se tornar apto a receber programas assistenciais do governo, eis ali um ferrenho defensor da liberdade de expressão e dos direitos humanos, eis ali um indômito combatente da crueldade contra animais; eis ali meritórios e cicatrizados veteranos de centenas de batalhas em prol da verdade, da liberdade e da justiça — todos, todos eles cantando glórias a Stalin e à sua Ditadura do Proletariado.  Era como se uma sociedade vegetariana se manifestasse apaixonadamente em defesa do canibalismo, ou como se Hitler houvesse sido indicado postumamente para o Prêmio Nobel da Paz.
Este fenômeno não acabou junto com a década de 1930.  Ele perdurou até o último suspiro da farsa econômica criada pelos soviéticos.  A falência intelectual e moral dos líderes intelectuais do Ocidente, algo que vinha sendo encoberto pela própria durabilidade do regime soviético, foi finalmente exposta em 1991, quando houve o reconhecimento mundial de que os regimes marxistas não apenas haviam falido economicamente, como também eram tiranias que o Ocidente havia aceitado como sendo uma alternativa válida para o capitalismo.
Não há exemplo melhor deste auto-engano intelectual do que o de Paul Samuelson, professor de economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o primeiro americano a ganhar o Prêmio Nobel de economia (1970), ex-colunista da revista Newsweek, e autor daquele que é, de longe, o mais influente livro-texto de economia do mundo pós-guerra (1948 — presente): pelo menos 3 milhões de cópias vendidas em 31 idiomas distintos.  Ele escreveu na edição de 1989 de seu livro-texto: "A economia soviética é a prova cabal de que, contrariamente àquilo em que muitos céticos haviam prematuramente acreditado, uma economia planificada socialista pode não apenas funcionar, como também prosperar."
Foi o economista Mark Skousen quem encontrou esta pérola.  E ele também descobriu esta outra, ainda mais condenatória.

O experimento soviético
Em sua autobiografia, Felix Somary recorda uma discussão que ele havia tido com o economista Joseph Schumpeter e com o sociólogo Max Weber em 1918.  Schumpeter foi um economista nascido na Áustria mas que não era da Escola Austríaca de economia.  Mais tarde, ele viria a escrever a mais influente monografia sobre a história do pensamento econômico.  Já Weber foi o mais prestigioso cientista social acadêmico do mundo até morrer em 1920.
Naquela ocasião, Schumpeter havia expressado alegria em relação à Revolução Russa.  A URSS seria o primeiro exemplo prático de socialismo.  Weber, por sua vez, alertou que o experimento geraria uma miséria incalculável.  Schumpeter retrucou dizendo que "Pode ser que sim, mas seria um bom laboratório."  E Weber respondeu: "Um laboratório entulhado de cadáveres humanos!".  E Schumpeter retrucou: "Exatamente igual a qualquer sala de aula de anatomia".[1]
Schumpeter era um monstro em termos morais.  Não vamos medir as palavras.  Ele foi um homem altamente sofisticado, mas, no fundo, um monstro moral.  Qualquer pessoa que menospreze a morte de milhões de pessoas desta forma é um monstro moral.  Weber saiu extremamente irritado da sala.  Não o culpo.
Weber morreu em 1920.  Foi neste ano que Mises lançou seu ensaio, O cálculo econômico sob o socialismo.  Weber o mencionou em uma nota de rodapé em sua obra-prima, publicada postumamente como Economia e Sociedade (página 107 na versão original).  Weber compreendeu sua importância tão logo leu este ensaio.  Já os economistas acadêmicos, não.  Até hoje, há poucas referências a esta obra de Mises.
Mises explicou analiticamente por que o sistema socialista é irracional: não há um mercado para os bens de capital.  Sendo assim, é impossível saber quanto cada coisa deveria custar.  Ele disse que um sistema socialista inevitavelmente se degeneraria em uma dessas duas alternativas: ou ele iria abandonar seu compromisso com um planejamento total ou ele fracassaria por completo.  Mises nunca foi perdoado por esta falta de etiqueta.  Ele estava certo, e os intelectuais, errados.  As sociedades socialistas entraram em colapso, com a exceção da Coréia do Norte e de Cuba.  Pior ainda, ele se mostrou correto em termos de simples teoria de mercado, algo que qualquer pessoa inteligente podia entender.  Exceto, aparentemente, os intelectuais do Ocidente.  E este seu ensaio é um testemunho para os intelectuais do Ocidente: "Não há pessoas mais cegas do que aquelas que se recusam a enxergar."

A prova do pudim
Mises acreditava que a real prova do pudim está em sua fórmula.  Se a pessoa que faz o pudim acrescentar sal em vez de açúcar, ele não será doce.  Você nem precisa experimentá-lo para saber disso.  Mas os acadêmicos estão oficialmente comprometidos a aceitar apenas coisas empíricas.  Eles creem que uma teoria tem de ser confirmada por testes estatísticos.  Mas os testes ocorreram durante décadas.  As economias socialistas fracassavam seguidamente, mas divulgavam estatísticas falsificadas.  E todos sabiam disso.  Mas, mesmo assim, os intelectuais do Ocidente insistiam na crença de que o ideal socialista era moralmente sólido.  Eles insistiam que os resultados iriam, no final, provar que a teoria estava certa.
Nikita Kruschev ficou famoso por haver dito isso a Nixon no famoso "debate da cozinha", em 1959.  Ele era um burocrata que havia sobrevivido aos expurgos de Stalin por ter supervisionado o massacre de dezenas de milhares de pessoas na Ucrânia.  Ele disse a Nixon: "Vamos enterrar vocês."  Ele estava errado.
Estudantes universitários não são ensinados nem sobre a teoria do socialismo nem sobre a magnitude de seus fracassos.  Nem economicamente nem demograficamente.  Na era pré-1991, tal postura era mais fácil de ser mantida do que hoje.  A intelligentsia hoje já admite que o capitalismo é mais produtivo que o socialismo.  Sendo assim, a tática agora é dizer que o capitalismo é moralmente deficiente.  Pior, que ele ignora a ecologia.  Foi exatamente esta a estratégia recomendada por Heilbroner em seu artigo de 1990.  Ele disse que os socialistas teriam de mudar de tática, parando de acusar o capitalismo de ineficiência e desperdício, e passar a acusá-lo de destruição ambiental.

Conclusão
A natureza abrangente do fracasso do socialismo não é ensinada nos livros-textos universitários.  O tópico é atenuado e minimizado sempre que possível.  Era mais fácil impor sanções contra qualquer um que se atrevesse a escrever em jornais acadêmicos ou na imprensa antes de 1991.
Deng Xiaoping anunciou sua versão da Nova Política Econômica de Lênin em 1978.  Mas isso, na época, não ganhou muita publicidade.
Em 1991, a fortaleza soviética desmoronou.  Gorbachev presidiu o último suspiro do regime em 1991.  Ele recebeu da revista Time o título de "Personalidade da Década" em 1990.  Em 1991, ele se tornou um ex-ditador desempregado.  O socialismo fracassou — totalmente.  Mas a intelligentsia ainda se recusa a aceitar a filosofia social de livre mercado de Mises, o homem que previu todas as falhas do socialismo e que forneceu todos os argumentos em prol de sua condenação universal.
É exatamente por isso que é uma boa ideia sempre prever o fracasso de políticas econômicas ruins em qualquer análise que se faça sobre elas.  Poder dizer "Eu avisei que isso iria ocorrer, e também expliquei por quê" é uma postura superior e mais respeitável do que apenas dizer "Eu avisei".




[1] Felix Somary, The Raven of Zurich (New York: St. Martin's, 1986), p. 121.


Gary North , ex-membro adjunto do Mises Institute, é o autor de vários livros sobre economia, ética e história. Visite seu website

Sem propriedade privada não há moralidade e nem civilização

por
apocalypse-9-500x362.jpgO que são "meios de produção"?  Qual a importância deles para uma sociedade?  Como eles são criados, expandidos ou meramente mantidos?  Qual a relação entre a ordem moral vigente de uma sociedade e seu nível de acumulação de capital?
Estas são questões sobre as quais economistas e filósofos políticos vêm meditando ao longo de toda a história do pensamento econômico.
Se você já se pôs a pesquisar as diferenças entre capitalismo e socialismo, você certamente já terá ouvido falar no termo "meios de produção", e certamente já terá alguma ideia do quão importante eles são para a organização de uma sociedade. 
Da mesma forma, você pode até já ter ouvido falar, mas talvez ainda não tenha dedicado muito tempo a constatar a relação entre capital e ordem moral. 
Com efeito, por que as pessoas comuns deveriam se preocupar com tais coisas?  Meios de produção não seriam apenas algo sobre o qual universitários lêem entre uma balada e outra?  Ou talvez não seriam algo exclusivamente da alçada de contadores e administradores, preocupados com as técnicas corretas do método contábil das partidas dobradas?  Qual a sua grande importância?
Como, afinal, seria uma sociedade sem capital, sem meios de produção?  Ela conseguiria manter a moralidade? 
Ao contrário do que muitos imaginam, é perfeitamente possível imaginar como seria este mundo recorrendo apenas à teoria — muito embora a experiência dos países comunistas, nos quais os meios de produção foram exauridos, possa nos servir como um ótimo exemplo empírico. 
Um mundo sem meios de produção seria inóspito, frio e selvagem.  As terras férteis, por não mais poderem ser trabalhadas da maneira correta, deixariam de ser cultiváveis.  Haveria escassez de alimentos.  A fome estaria por todos os lados.  Isso levaria a saques e pilhagens, e, consequentemente, ao desaparecimento de lojas, mercearias e supermercados.  Aqueles que porventura conseguissem coletar alimentos naturais para estocá-los teriam de vigiar continuamente suas posses, pois se tornariam presas de outros humanos famintos.  No final, a fonte de alimentos seria uma só: a carne dos outros humanos.  O homicídio e o canibalismo seriam práticas não apenas corriqueiras, como também totalmente necessárias para a sobrevivência.

1. Civilização, capital e ordem moral
De onde vem a nossa comida?  O que permite a existência da civilização?  Embora a civilização moderna seja bastante complexa, ela também é muito simples em sua essência, pois está erigida sobre três formas de capital físico que compõem os pilares de qualquer ordem civilizada.
Uma delas é o capital físico natural construído pelo homem, o qual os humanos utilizam para sobreviver e para realizar a produção de bens.  Tratores, escavadeiras, britadeiras, serras elétricas, ferramentas em geral, computadores, maquinários, equipamentos de construção, edificações, fábricas, meios de transporte e de comunicação, minas, fazendas agrícolas, armazéns, escritórios etc. 
Estes bens de capital são os meios de produção.  São eles que não apenas tornam o trabalho humano mais produtivo, como também possibilitam toda e qualquer produção e distribuição de bens e serviços.
Além deste capital físico, há duas correspondentes formas de capital humano: o conhecimento técnico para operar este capital físico e sustentar a produção de bens, e a ordem moral necessária para preservar o uso organizado dos recursos escassos. 
O grau de vida civilizada que existe atualmente só é possível porque herdamos de nossos antepassados capital físico e conhecimento tecnológico, e também porque temos algum senso da ordem moral necessária para preservar este arranjo.
A história da civilização é a história da acumulação de capital.  Isso inclui não apenas a acumulação de capital físico, mas também uma correspondente acumulação de conhecimento técnico e moral.  Somos civilizados apenas até o ponto em que passamos a nos perguntar que espécie de ordem moral é necessária para preservar a acumulação de capital. 
Qual tipo de ordem moral sustenta um meio de produção?
Vivendo em meio a uma civilização próspera, é fácil para as pessoas se tornarem levianas e petulantes quanto à ordem moral necessária para preservar a acumulação de capital.  Não mais se dá o devido valor ao esforço e ao trabalho duro.  Grandes estoques de bens de capital já estão disponíveis para nós, de modo que a preocupação de várias pessoas passa a ser apenas a de como "distribuir" estes bens de modo a satisfazer seu desejo e sua ânsia por "justiça social".
Em uma situação de tamanha abundância, é fácil o relativismo moral e o niilismo prosperarem.  Tudo passa a ser subjetivo, e o 'bom' passa a ser qualquer coisa que "os representantes do povo" estipulem ser.  Aqueles que fazem pouco caso das regras morais que preservam a acumulação de capital frequentemente imaginam estar atuando em prol dos fracos e oprimidos. 
Porém, um eventual colapso do capital acumulado traria o colapso de toda a civilização, e isto seria extremamente nocivo tanto para os fracos quanto para os fortes.  Com efeito, se há alguém totalmente dependente da ordem civilizada, este alguém é justamente aquele que não tem a menor chance de sobreviver sob o jugo do mais forte em uma ordem sem civilização.
Na ausência de meios de produção para sustentar a civilização, o homem retornaria à sua natureza predatória, o que levaria à inevitável degeneração da ordem moral.

2. Por que não estamos nos canibalizando agora mesmo?
Refletir sobre os prováveis efeitos de uma maciça destruição do capital é um fascinante experimento mental.  É algo que nos propicia valorosas constatações sobre a natureza humana e a fragilidade de nossa atual civilização. 
Não importa se a destruição do capital ocorrerá por meio de uma repentina hecatombe nuclear ou por meio de um lento e gradual esgotamento do capital acumulado no passado.  Se os meios de produção forem destruídos, ou simplesmente não forem mantidos, é certo que a humanidade estará em um inexorável caminho rumo à fome e à predação.
O que nos impede de estarmos recorrendo ao canibalismo hoje mesmo?  Quanto tempo levaria para que as pessoas em nossa civilização recorressem a brutais atos de selvageria na eventualidade de um desastre catastrófico?  Quanto tempo até vermos as pessoas começarem a caçar, manter em cativeiro e se alimentar de outros humanos?
Há duas razões essencialmente comportamentais que impedem que os atuais humanos se tratem de maneira fragorosamente predatória. 
Uma razão é moral: há uma ampla aceitação de que, em nossas atuais circunstâncias, é errado e maléfico escravizar e se alimentar de outras pessoas.  A outra é contextual: o capital acumulado de nossa civilização é suficiente para garantir que nós simplesmente não necessitemos de nos alimentarmos de outras pessoas — já temos comida abundante à nossa disposição.
(Uma outra razão que poderia ser mencionada é resultante dessas duas anteriores: tememos a punição que nos seria imposta por nos alimentarmos de outras pessoas.  No entanto, esta é uma preocupação ínfima em nossa atual civilização e praticamente inexiste na mente da maioria das pessoas.  A esmagadora maioria das pessoas evitaria o canibalismo sob as atuais circunstâncias independentemente de se elas fossem ou não punidas por tal ato, simplesmente porque elas não querem ou não necessitam incorrer neste tipo de depravação.  Mencionamos esta motivação apenas para explicar que ela não está presente na maioria das pessoas.)
Estas duas fontes de comportamento civilizado — moral e contextual — não são independentes uma da outra.  Nossa visão moral a respeito da escravidão e do canibalismo foi formada dentro do contexto de uma sociedade próspera na qual estas atividades não são necessárias para suprir nossas necessidades — ou seja, o atual contexto em que vivemos afeta nossa moralidade. 
Similarmente, o fato de não termos necessidade por este tipo de comida é por si só resultado da acumulação de capital gerada em decorrência de termos um sistema ordenado de produção erigido sobre regras morais — ou seja, nosso sistema moral afeta nossas atividades, as quais afetam o contexto em que vivemos. 
Embora a primeira conexão seja amplamente apreciada, a segunda não é tão bem compreendida, e várias pessoas são propensas a tratar os frutos da civilização como sendo coisas que simplesmente surgiram do nada (ou como resultado da ciência e da tecnologia, as quais também teriam surgiram do nada), não necessitando de quaisquer princípios morais particulares para sustentá-las.
O fato de que o comportamento das pessoas depende de fundações morais totalmente relacionadas ao contexto em que vivemos é, por si só, um pensamento apavorante — muito embora as pessoas hoje pensem que o canibalismo é algo abominável, coloque-as vivendo por alguns meses em um mundo moribundo e pós-apocalíptico e veja se elas não irão mudar de ideia. 
Sim, os princípios morais que alicerçam nossa atual civilização são extremamente frágeis, e é justamente a acumulação de capital e a consequente existência de meios de produção o que nos impede de mergulharmos na barbárie.

3. Ordem moral?  Que ordem moral?
Se há uma forte conexão entre ausência de capital e ausência de ordem moral, e se o capital é de extrema importância para a vida civilizada, então qual é a ordem moral necessária para se acumular e preservar capital?
Para responder a isso, temos de entender que capital é algo formado e preservado por esforços produtivos que visam a uma recompensa futura.  Por sua própria natureza, a acumulação de capital é uma atividade que requer uma abstenção de consumo no presente, abstenção esta que permitirá uma acumulação de poupança, a qual, por sua vez, possibilitará o aumento da produtividade no futuro.  (Mais detalhes sobre este processo aqui). 
Para que este equilíbrio de trocas seja vantajoso, é necessária a existência de direitos de propriedade que funcionem como "fronteiras delimitadoras da ordem" em nossa interação com outras pessoas.  É isto que nos permite acumular capital e evitar a barbárie.  É isto que nos permite poupar para o futuro tendo a garantia de que colheremos alguma recompensa, em vez de apenas vermos nossos esforços sendo esbulhados por saqueadores e assassinos. 
A ordem moral adequada para a vida civilizada é aquela que, de um lado, permite a ação cooperativa de indivíduos que almejam ganhos mútuos, e de outro, impede a coerção.  Sempre que esta ordem moral foi praticada, ela permitiu ao homem construir capital e desenvolver e aprimorar a vida civilizada.  Sempre que ela foi violada, surgiram impedimentos à acumulação de capital e houve até mesmo uma rematada destruição de capital.

4. Capital, ordem moral e sobrevivência humana
Se o homem perder todo o capital acumulado pela civilização, não haverá meios de produção.  Consequentemente, sua própria vida estará em risco.  Em situações assim, toda a ordem moral que sustenta uma civilização tende a se esfacelar. 
E por que, afinal, estou insistindo neste ponto?  Porque o mundo se encontra hoje em um gradual e contínuo processo de repúdio da ordem moral que sustenta o processo de acumulação de capital.  Percebe-se em todos os cantos do globo uma temerária desconsideração da parte de várias pessoas por qualquer elo entre uma ordem moral objetiva baseada na conduta cooperativa e a acumulação e preservação de capital. 
São vários os indivíduos que creem que a acumulação e preservação do capital necessário para sustentar nossa atual abundância é algo que pode ser perfeitamente separada de toda e qualquer ordem moral.
Aqueles que se preocupam com a "distribuição" da riqueza acumulada no mundo representam uma força imprudente que está corroendo aos poucos as fundações da ordem civilizada.  Que eles façam isso sob a pretensão de estarem atuando pelo bem dos pobres e oprimidos apenas mostra o quão grande é sua ingenuidade e sua desconsideração pela natureza do homem quando este perde sua civilização. 
O problema com esta situação não é meramente o perigo de esgotamento do capital físico, mas sim algo bem mais profundo e mais total: trata-se de uma deterioração moral que está gradualmente solapando a capacidade das pessoas de produzir e sustentar a produção.  Cada medida coerciva defendida e aprovada por estas pessoas interfere na ordem moral da propriedade privada e nas transações voluntárias e cooperativas.  Isso, por sua vez, ajuda a solapar a acumulação de capital, debilitando os meios de produção e afetando toda a vida civilizada que eles sustentam.
Solapar a acumulação de capital e, consequentemente, exaurir os meios de produção não é uma política que trará resultados bonitos.  Tampouco se trata de uma política compassiva que trará benefícios aos pobres e oprimidos.  Ao contrário, eles são os que mais irão sofrer. 
Há uma forte conexão entre capital e ordem moral que jamais deve ser ignorada.  Em suas raízes, os seres humanos são animais; e, como os outros animais, temos uma hierarquia de necessidades a serem satisfeitas.  Não obstante nossa capacidade de raciocinar e ponderar sobre nossa própria conduta, nosso modo de comportamento sempre irá refletir a necessidade de satisfazer estas carências de alguma forma. 
Em nossa atual civilização, em meio a toda a sua abundância, a ideia de escravizar e canibalizar outras pessoas (inclusive crianças e bebês) é horrenda e revoltante, mas trata-se de uma realidade da natureza humana o fato de que isso pode vir a ocorrer sob circunstâncias terríveis e urgentes.  O que nos protege deste resultado é o capital acumulado no passado e nossa capacidade de proteger este capital ao formularmos uma adequada ordem moral para conduzir nossas ações.  Se formos negligentes quanto ao elo entre ordem moral e acumulação de capital, estaremos implorando pelo desastre.
Quando uma pessoa afirmar com desenvoltura que regras morais são apenas julgamentos subjetivos, ou que elas são algo que transcendem preocupações triviais com relação a bens materiais, pergunte a si mesmo aonde este tipo de posição tende a levar.  Se o homem adotar esta visão em larga escala, você acha que ele ainda existirá daqui a mil anos?

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Ben O'Neill é professor de estatística na Univesidade New South Wales, em Canberra, Austrália.  Já foi também advogado e conselheiro político.  Atualmente é membro do Independent Institute, onde ganhou em 2009 o prêmio Sir John Templeton de competição de ensaios.