Quando alguém diz “a democracia, para o
PT, é uma ditadura” faz uma propaganda – não sem um fundo de razão, mas a
verdade é que o justo seria dizer que o PT é tão totalitário que
corrompe qualquer democracia. O PT também faz isso o tempo todo. Por
exemplo, eles usam o termo “massacre do Paraná”, para o confronto entre
manifestantes e a polícia. Mas um massacre envolve mortes. É claro que
não existiu massacre algum.
Mas, tecnicamente, em termos de guerra
política, é um acerto tático. Eis a retórica do exagero.
Enfim, o que quero dizer é que a retórica
do exagero, onde as palavras são tiradas do seu sentido para serem
usadas em versões exageradas, a fim de causar um efeito psicológico, são
parte da guerra política. Esta técnica é melhor utilizada durante o
ataque a um oponente, pois no auto-elogio pode se tornar até
caricatural.
Porém, há um detalhe que não pode passar
batido: a esquerda é esperta o suficiente para saber a diferença entre o
exagero praticado por fins de propaganda e a realidade.
Algumas vezes a retórica do exagero é
utilizada para alertar alguém sobre algum risco. Por exemplo, dizer
“consumir (x) vai te matar” pode ter um tom de exagero para fins de
conscientização. Às vezes alguns médicos se valem do recurso, sempre a
ser usado com moderação.
Nós usamos isso no dia-a-dia.
Recentemente, ao receber as datas propostas para a entrega de um
projeto, disse: “Isto é uma insanidade. Coisa de internação.”
Obviamente, eu não esperaria que o carrinho do manicômio chegasse para
levar o líder de projetos em uma camisa de força.
Vamos a um outro exemplo de como a
extrema esquerda compreende isso direitinho. Quando Eduardo Cunha foi
eleito presidente da Câmara parecia que havia ocorrido o apocalipse.
Porém, os petistas seguem lutando, dia após dia, em prol de sua agenda
(tudo bem que muitos desanimaram, mas principalmente pela postura do PT
em favor do arrocho). A direita também tratou a eleição de Luiz Fachin
como se fosse o fim do mundo. Mas o problema é que, ao contrário da
esquerda, muitos encararam de fato a questão como ponto terminal, e
então surgiu ali mais um fluxo de desespero.
Este é um dos problemas que a direita
precisa corrigir. No momento de delinear suas expectativas e avaliar o
futuro, é prioritário observar a realidade, muito mais dos que as frases
de efeito e os slogans (que também possuem sua serventia na guerra
política). Muitos na direita têm errado neste aspecto. Eles entram em
desespero ao confundirem os slogans e os exageros retóricos, utilizados
como fins de propaganda, como se fossem a descrição da realidade.
Me lembro de um caso onde eu argumentava
contra a intervenção militar. Um outro afirmou: “a intervenção militar é
justa, pois o PT é tropa de ocupação”. Pronto. O exagero retórico
(“tropa de ocupação”) se transformou na descrição da realidade, o que só
serviu para levá-lo a um radicalismo injustificado.
Comecei a mapear este padrão dias atrás
ao observar que algumas pessoas da direita aparentam-se impacientes e
enfurecidas, até desesperadas (e sem motivo, pois o momento é de manter
confiança na vitória, mas sem perder o foco e atenção, claro). Ao
justificarem seu comportamento, usam os exageros retóricos e slogans
como descrição da realidade. Muitos fazem isso inconscientemente.
Daí é um pulo para dizerem que “não há
democracia alguma no Brasil”, que “não se vence mais o PT pelas vias
democráticas”, que “está tudo dominado”, que “PSDB e PT fazem apenas
teatro” e daí por diante.
Com tantos excessos retóricos levados ao pé da
letra, não surpreende que uma parte da direita esteja mais usando
discurso de retirada de tropa do que atuando politicamente. É de dar
pena ver tanto esforço desperdiçado em interrupção de ações políticas.
Hoje em dia a direita conseguiu ter a proeza de ter uma tropa política
dedicada única e exclusivamente a desanimar tantas pessoas de seu lado
político quanto for possível.
É claro que o PT é totalitário em
essência. É claro que o PT é desleal até o limite da psicopatia mais
assombrosa. É claro que o PT fará de tudo para se manter no poder. É
claro que o Foro de São Paulo é uma ameaça constante. Todavia, nada
disso justifica a visão de “está tudo dominado”, apregoada por tamanha
perda de conexão com a realidade que beira a histeria.
Eis aqui uma meta: tentar ao máximo
observar a realidade, de fato, de maneira serena e racional, no momento
de delinear suas próxima ações, definir seus objetivos, escolher seus
discursos e “selecionar” seu estado mental. A partir daí, use a retórica
a seu favor. A retórica não foi criada para que seu usuário perca a
conexão da realidade. Ao contrário, foi feita para que ele obtenha seu
benefício na comunicação pública, especialmente quando queremos
convencer um público neutro a se opor a um adversário.
A retórica do exagero deve ser uma arma a nosso favor. Não deixe ela se tornar instrumento de suicídio político.
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